terça-feira, 26 de junho de 2012

Cartas de amor para mim mesmo


XIV. Eu dou a mim mesmo aquilo que exijo dos outros

Os nossos problemas com os outros ou com qualquer acontecimento são porque não damos a nós mesmos aquilo que estamos a exigir desse outro ou de qualquer acontecimento.
Quando decidimos optar pelo amor a nós mesmos, pelo não julgamento de nós mesmos, pelo terminar do sistema de culpabilização de nós mesmos, então deixamos de exigir aquilo que não damos a nós mesmos do outro ou de qualquer acontecimento.
Quando nos amamos, não exigimos que o outro nos ame, porque já estamos cheios de amor dentro de nós mesmos, mas mesmo assim, este amor por nós mesmos, por quem realmente somos, é alcançado por outros, que o podem sentir em menor ou maior grau, e, nós mesmos, podemos demonstrar, através da nossa forma física, esse amor por diferentes pessoas em menor ou maior grau.
Então deixamos de exigir, porque não precisamos de nada mais, porque encontramos dentro de nós mesmos o que precisávamos, e demos a nós mesmos o que precisávamos.
O que acontece, em linguagem figurada, é que procuramos primeiro o Reino de Deus e depois tudo o resto nos foi dado por acréscimo.
No estado de contato com o Reino de Deus, o Nosso Interior, nada mais podemos desejar, porque aí existe tudo o que possamos querer ou desejar, aí tudo existe e tudo está contido.
Quando nos amamos, deixamos de exigir amor.
Quando nos amamos, deixamos de exigir que os outros nos amem.
Um dos maiores sofrimentos que temos é acharmos que os outros não nos amam da forma como nós os amamos.
Parece que temos sempre tanto amor para dar e que os outros não nos correspondem.
Através do estado de presença e da recordação de quem somos, logo descobrimos que esse amor, isso a que chamávamos de amor, afinal eram apegos e necessidade de nos amarmos a nós mesmos, e a falta de algo que não damos ou que recusamos a nós mesmos.
Ninguém nos ama ou amará como nós nos podemos amar a nós mesmos.
Ninguém nos dá ou nos consolará ou nos dará maior prazer, do que aquele que nós podemos dar a nós mesmos.
Ninguém o poderá fazer.
E viver dia a dia neste procurar incessante, jamais nos trará um amor que corresponda às nossas expectativas, pois as nossas expectativas estão erradas logo no início, ao serem expectativas.
Esperar que os outros sejam aquilo que nós queremos era, por si só, um catalisador de sofrimento, pois havia uma parte da dualidade: a expectativa do que seria, e, como em todas as dualidades do ego, o querer que as coisas sejam de determinada forma gera sofrimento, porque as coisas nunca são como nós queremos, mas sim como são.
A exigência pelo que os outros nos possam dar ou satisfazer, ou a espera de que algum acontecimento nos possa trazer a felicidade ou dar prazer, é geradora de sofrimento.
Também não devemos exigir de nós mesmos, devemos procurar deixar que as coisas se desenvolvam de forma natural e harmoniosa, seguindo o caudal de vida.
Mais uma vez, desejar que qualquer coisa seja diferente do que é, gera sofrimento.
Devemos procurar fazer tudo o que nos agrade, sem exigir nada em troca e sem exigir que a pessoa com quem temos uma relação nos dê aquilo que nós recusamos dar a nós mesmos.
Sempre exigimos dos outros aquilo que nunca demos a nós mesmos e quando eles falharam ao nos dar isso que nós exigimos, ficamos de mal com eles, sem saber que estávamos a ficar de mal conosco mesmos, porque o que nós queremos mesmo é dar-nos a nós mesmos aquilo que exigimos dos outros e ninguém nos pode dar aquilo que não damos a nós mesmos e tudo o que nós precisamos existe dentro de nós e no nosso interior.
Nós somos o nosso aconchego durante a noite.
Nós somos a nossa melhor companhia em todos os momentos da nossa vida.
Nós somos a nossa maior paixão e o nosso mais adorado amor.
(Um Tratado Completo de Liberdade – Joma Sipe)

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