terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cartas de amor para mim mesmo

XXI. A vida simples de todo o mundo

A maior parte das pessoas do planeta vive uma vida simples, alternando entre a felicidade e a infelicidade, entre a tristeza e a alegria, acreditando que estes são estados próprios delas e que esta é a sua verdadeira realidade.
Outras pessoas vivem uma vida complicada, alternando entre opostos semelhantes e estados de pensamento mais ou menos negativos e de sofrimento.
E vivem, esperando dias melhores, esperando um dia em que tudo será diferente, em que a tristeza, o infortúnio, a infelicidade e o sofrimento acabarão e que haverá apenas os opostos, como a alegria e a felicidade.
Vivem na esperança de que um dia as coisas poderão mudar, e que o desespero terminará.
Um dia, num longínquo futuro, em que tudo possa ser diferente.
Mas esta é a sua “forma de viver” e quem falar de uma outra forma de viver estará a inventar uma escapatória do próprio mundo em que se vive, porque sempre fomos habituados a viver assim, os nossos pais e os nossos avós sempre viveram assim, bem como todos os nossos antepassados e mesmo os nossos filhos sempre irão viver assim.
Isto é uma certeza quase absoluta. De que outra forma poder-se-ia viver?
Quando se fala numa forma de viver em que não há alegria nem tristeza, nem felicidade nem infelicidade, nem amor nem ódio, nem um outro qualquer conjunto de opostos, que sempre pensamos fazer parte da nossa vida, então o nosso mundo de conflito desmoronaria, o mundo de resistência do ego quebra-se a abrir-se-ia, nem que seja por breves instantes ao novo.
Seria como uma pequena brecha de raios de sol, no meio de uma tempestade, e Aquilo que verdadeiramente somos abriria uma porta no nosso interior e usaria todo o nosso corpo e alargaria os horizontes da nossa mente a uma realidade supra terrestre e, por poucos instantes, recordar-nos-ia mos de
Quem verdadeiramente fomos, somos e seremos.
Iríamos recordar-nos da nossa realidade invulnerável e indestrutível.
Iríamos recordar-nos da nossa verdadeira missão neste planeta e do que estamos aqui a fazer verdadeiramente.
Iríamos recordar-nos, por breves instantes, da nossa verdadeira natureza como seres divinos e como Deus, Ele próprio, e como seus Filhos e carne da Sua carne e sangue Seu sangue. E que Ele e nós somos um só.
Mas estes instantes podem ser mais ou menos breves, dependendo do maior ou menor grau da nossa identificação com o ego.
E, para uns, podem apenas durar uns segundos ou minutos e, para outros, algumas horas ou alguns dias.
Para os verdadeiros iluminados e para os mestres, aqueles que se recordaram de quem são, estes instantes duram continuamente.
Essa é a mestria. Ser mestre é ter a durabilidade contínua destes instantes.
Para a maior parte dos habitantes do mundo viver a dualidade entre os opostos tornou-se a sua vida e pensar num mundo sem opostos, sem resistência e sem conflito é algo inconcebível.
Pensar no Agora, e viver sem a existência de passado e de futuro é inconcebível.
Sem passado, quem seríamos nós?
Sem pensamento num futuro melhor, como viveríamos e que esperança nos restaria?
É inconcebível para a mente egóica imaginar um mundo diferente do que atualmente vivemos, e essa mesma mente, comandada pelo ego, classificaria de imediato, qualquer tentativa de o fazer, como uma manobra evasiva, inventada pela mente, para nos retirar da nossa própria realidade e nos distrair dos nossos verdadeiros problemas e infelicidades, da nossa falta de amor, dos nossos medos e das nossas carências.
Essa mente egóica dir-nos-ia que estaríamos a encobrir a nossa verdadeira infelicidade, que estaríamos a recalcá-la, a inventar um subterfúgio para não sofrer.
Sempre sofremos. Sempre ouvimos dizer que sofrer faz parte da vida.
Quem poderia imaginar um mundo onde o medo, a infelicidade, os conflitos e o sofrimento não existissem?
Só uma mente que não é deste mundo, só uma mente insana o poderia fazer.
Este é o pensamento do nosso ego.
Ele fará de tudo para que os breves instantes de Presença do Eu Sou, permaneçam completamente obscurecidos por debaixo da sua capa de comando.
O ego sabe que está ameaçado por esses breves instantes e que quando os mesmos aumentarem de duração, essa ameaça será muito mais real e mais forte, e é, nessa altura, que ele atacará e se defenderá mais, porque esta é uma ameaça real ao seu domínio e controle.
O ego tentará por todos os meios convencer-nos de que esta é a única realidade, que este mundo de conflito de opostos e sofrimento, ou momentos de prazer e posteriormente de problemas, é a nossa verdadeira realidade, que este é o nosso mundo.
Convencer-nos-á de que viemos cá para ter alegrias e tristezas, para nascer, crescer, gozar os prazeres da vida e que o devemos fazer agora, porque, em breve morreremos, que a nossa vida é curta e tem de ser gozada ao máximo, e se não aproveitarmos a vida então não andamos cá a fazer nada.
Convencer-nos-á de que teremos de constituir família, ter filhos, cuidar dos filhos e logo ter a reforma e aguardar pela morte, recebendo os filhos e os netos, e vivendo os dias finais da nossa vida em tranquilidade.
Ou então convencer-nos-á de que teremos de fazer algo pelo qual sejamos lembrados, ou que teremos de atingir a fama e o prestígio, pois só assim valerá a pena viver.
E a vida resume-se a isto e pensar que ela poderia ser algo diferente não cabe na mente egóica, porque, para além do mais, toda a gente é assim e vive assim, porque teríamos nós de viver de forma diferente?
Os que se elevaram para além do mundo foram aqueles que reivindicaram para si a sua Verdadeira Natureza Divina e os que permaneceram despertos na sua Presença, no estado do Eu Sou, e na sua própria invulnerabilidade, esses são os que viverão para sempre, para além das muitas mortes dos seus muitos corpos.
Nós também poderemos ser assim, quando percebermos que viveremos para sempre, para além do que possa acontecer ao nosso corpo ou aos nossos objetos, ou às pessoas com as quais lidamos no mundo.
Nós já somos assim.
Nós já somos indestrutíveis e invulneráveis e seres completamente eternos.
Nós já somos aqueles que viveremos para sempre.
Basta apenas abrir uma brecha no sistema de pensamento do ego e descobrir, dentro de nós mesmos, aqueles que somos verdadeiramente, descobrir que somos um com Deus, em cada instante que decidirmos sê-lo e em cada instante em que estejamos recordados de quem verdadeiramente somos.
A vida não é composta de felicidade e sofrimento, em alternância.
A vida é o que é.
Ao aceitar a vida como ela é, este tipo de opostos não cabe, não faz sentido.
Aí percebemos a mentira e o engano do ego, pois apercebemo-nos, no nosso interior, que é o ego que cria essa dualidade.
Essa dualidade é apenas uma invenção, um estado de pensamento, e nada mais, nós mesmos damos-lhe a força e a identidade que ela precisa ao materializar esses pensamentos no plano físico.
A nossa vida não é esta, embora pensemos que seja.
A nossa vida está muito para além do que nós pensamos que ela seja.
O pensamento é limitado para poder compreender o significado Daquilo que verdadeiramente somos.
Nós somos Seres Divinos que estamos momentaneamente dentro de um corpo físico, neste planeta.
Essa é a nossa verdadeira realidade e não o contrário.
Alguém dizia em tom de pergunta: Será que é um corpo que tem uma alma, ou uma alma que tem um corpo?
A maior parte de nós pensa da primeira forma, muito poucos pensam da segunda.
Viemos a este plano físico, a este planeta específico, encarnamos nesta forma humana para manifestarmos a nossa verdadeira natureza e para aprender, para ser, para ser aquilo que somos.
Mas ao invés de ser, enredamo-nos no mundo que nós mesmos criamos, quando o ego se manifestou pela primeira vez.
Escolhemos pensar que esta vida é a nossa vida, aquilo que nós verdadeiramente fomos criados para.
Não conseguimos conceber que fomos nós mesmos que criamos estes corpos e tudo o que existe, inclusive todas as ilusões em que vivemos e a nossa própria vida.
Criamos para nós diversos e múltiplos sistemas de regras, de qualificações, de conceitos, de opostos, de formas de viver.
Enredamo-nos no modo de viver como vivemos, sem perceber que apenas “vegetamos”, ou seja, que não vivemos, mas que apenas assistimos ao viver.
Criamos diferentes formas de encarar a vida e tudo o que não esteja de acordo com esse sistema que criamos é considerado como pecado e os pecados variam de continente para continente e o que é pecado num país, no outro não o é considerado.
Inventamos famílias, lares, pessoas que amamos, inimigos, pessoas que odiamos, familiares e não familiares.
Concebemos uma ideia de como deveria ser a vida, como deveria ser a infância e a adolescência, como deveríamos comportarmo-nos como adultos e como deveria ser a nossa velhice.
E, de repente, todo esse projeto de vida é ceifado, em instantes, e tudo parece não fazer sentido.
O que é isto realmente a que chamamos vida, será que a vida é realmente isto ou fomos nós que criamos esta ideia de vida e julgamos que ela deveria ser assim?
A resposta às perguntas: O que viemos cá fazer? Porque é que aqui estamos?
Qual é o verdadeiro objetivo da nossa vida? Pode ser facilmente encontrada.
Nós estamos aqui para Ser e nada mais.
Nós somos uma manifestação Divina e apenas estamos aqui para Ser.
Como compreender este objetivo?
O ego não o pode fazer, mas no Estado de Presença, que significa paz interior e serenidade, poderemos compreender o significado da resposta às perguntas.
O ego também tem muitas respostas e muitas delas parecem quase óbvias e fazem sentido e muitas são magníficas, como as que dizem que estamos no mundo para ajudar os outros, ou que estamos no mundo para amar e sermos felizes, enfim, muitas outras respostas podem ser dadas pelo ego, mas nenhuma delas explicaria o significado da vida, porque a vida não tem significado, ou pelo menos não tem o significado que a nossa mente lhe poderia atribuir.
O único significado da nossa razão de viver é não existir razão.
O único significado da vida é viver.
Como o único significado que poder-se-ia atribuir à morte seria morrer.
Não existe qualquer razão específica para o viver e o morrer, ambos fazem parte do plano divino da criação e ambos são necessários à criação.
Não há que dar bênçãos pelo primeiro e estar de luto pelo segundo, um e outro são complementos de um completo sistema de criação e um não é o oposto do outro.
A morte não é o oposto da vida. A morte é o oposto do nascimento.
Porque para a vida não há nascimento nem morte, a vida é eterna.
O mundo e a vida não são o que nós pensamos do mundo e da vida.
O mundo e a vida são aquilo que são e não o que nós pensamos ou desejamos que sejam ou uma qualquer idéia que façamos do que possam ser.
Enredamo-nos num mundo e numa forma de pensamento sobre o que deveria ser a vida e como algumas vidas são vidas padrão e como alguns de nós mostram aos outros a forma como a vida deve ser vivida.
E sentimos inveja pelas vidas de alguns e damos graças por não ter a vida de outros.
Não há nenhuma forma especial de viver a vida e a vida não pode ser vivida de uma ou de outra forma.
Ninguém pode dizer-nos como a vida deve ser vivida porque não há nenhuma forma específica de a viver.
E poderemos Ser Aquilo Que Somos em todos os aspectos da vida e de todas as formas como a vida poderá ser vivida.
Nós somos a própria vida.
Nós somos toda a criação e todos os múltiplos aspectos da vida.
A experiência do plano físico é uma experiência diferente para Aquilo Que Somos.
É essa a nossa experiência no mundo, sem perder a noção de Quem Somos dentro, nem do que existe no nosso interior.
Quando nos esquecemos da nossa verdadeira realidade e de Quem Somos verdadeiramente, enredamo-nos naquilo a que atualmente chamamos vida, mas que não é a vida.
(Um Tratado Completo de Liberdade – Joma Sipe)

2 comentários:

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