sexta-feira, 21 de junho de 2013

Uma promessa esquecida



Quando começou a escurecer, um vento frio e cortante começou a soprar nas encostas. Juntamente com as frias rajadas, vinham nevascas e cortantes cristais de gelo. Já não se via mais o quente sol da tarde e as encostas das montanhas estavam escuras e geladas, na verdade, perigosas.
Perdidas no ruído do vento uivante, duas pequenas vozes se ouviam :
 "P... P... P... Puxa, está realmente frio h... hoje! "
 "Se ficar mais frio podemos até morrer. Podemos morrer congelados neste mesmo lugar!
 Sinto que minhas unhas estão congeladas nos meus pés. Se tivéssemos feito um ninho, à tarde, em vez de brincar o dia todo ... Oh ! está tão f ... frio!!!"
Essas vozes eram de dois passarinhos que, como duas bolas de penugem, aconchegavam-se no galho de uma velha árvore curtida pelo tempo, no alto da cordilheira do Himalaia.
Na altitude em que viviam, a neve dificilmente deixava a terra, mesmo em pleno verão. E durante o dia, quando o sol aparecia, esquentava tão pouco que quase não se percebia. Esse era o problema deles. Eles juravam fazer um ninho para afastar o terrível frio da noite, mas esqueciam as promessas durante o dia e esvoaçavam à procura de comida, cochilavam um pouco e brincavam sob a luz e o calor do sol. Agora, estavam amargamente arrependidos da tolice que fizeram.
 "A ... Acho que v ... vamos morrer desta vez. O f ... frio é demais. Vamos m ... morrer ..."
 "Quando o sol vier, vamos fazer um ninho. Está Bem ? D ... Desta vez não vamos esquecer, p ... pela nossa vida. "
Na realidade, era tão grande o frio naquela noite, que eles não conseguiram nem dormir. Durante a noite toda, choraram e se queixaram, prometendo fazer um ninho logo que o sol nascesse. A noite parecia durar séculos e séculos, enquanto o frio penetrava em seus ossos.
Não faltava muito para darem o último suspiro. Suas vozes enfraqueceram e os corpos caíram, ficando dependurados pelos pés que se congelaram no galho.
 "Oh! ... Estamos ... m ... morrendo ! "
 "Logo ... que ... o ... s ... sol ... ... "
Exatamente quando parecia tarde demais, um raio dourado refletiu-se na face congelada de um penhasco e atingiu uma agulha de gelo dependurada do bico do pássaro macho. O cortante frio deve ter feito seus olhos lacrimejarem e congelado a lágrima antes que pudesse cair.
No começo não se mexeu, mas depois abriu lentamente os olhos para uma última visão neste mundo. Quando avistou o feixe dourado da luz do sol, gritou repentinamente e sacudiu-se para tirar o gelo preso nas penas.
 "É o sol ! Acorde ! É o sol ! ... "
"É verdade ? Então não vamos morrer ! "
 "Oh ! Como é maravilhoso sentir a vida ! "
Seguramente, o sol subiu aos poucos pelos picos gelados das montanhas e lentamente os dois pássaros começaram a sentir o calor aquecer suas penas congeladas.
 "Ah ! ... O sol está tão bom. Acho que vou dormir um pouco. Não conseguimos dormir a noite inteira. "
 "Mas, ... e o ninho ? Conseguiremos terminá-lo se dormirmos ? "
 "Não se preocupe com isso. Teremos muito tempo depois de dormirmos e comermos um pouco. "
Assim, eles dormiram e comeram, apreciando o calor do dia. Voando pelos céus, o pássaro macho cantava :
"No conforto dos céus,
nas minhas asas e canção
Quando se cansar
pode sempre repousar
A vida é tão curta
e o dia é longo
Quem precisa ter pressa
para fazer o ninho ? "
Eles continuaram a brincar por várias horas até perceberem que estava começando a ficar frio. Eles olharam para o sol e perceberam horrorizados que ele estava começando a se pôr no oeste. Perceberam repentinamente que não havia mais tempo para construir o ninho antes de escurecer. Com olhares preocupados, desceram do céu e pousaram num galho. Depois de uma pausa, o pássaro olhou para a esposa e disse com um sorriso disfarçado :
 "Bem, o sol está baixando e, mesmo que comecemos, não há tempo para terminar o ninho. Vamos aproveitar o resto do sol. "
Assim, eles esbanjaram o resto do dia. Não demorou muito para ficar frio outra vez.
 "P ... P ... P ... Puxa, está realmente frio h ... hoje ... ! "
 "Está ainda mais f ... frio que ontem ! "
 "Se esfriar mais não v ... vamos v ... viver até amanhã. Oh ! ... está tão f ... frio ! "
E assim, caros amigos, os dois pássaros viveram o resto de suas vidas, desperdiçando totalmente os dias e sofrendo durante as noites.


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