sábado, 29 de junho de 2013

Porque hoje é sábado



Nunca morei longe do meu país.
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava
essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim
do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e
os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho
E que meu pai chamava exílio.

 (Manoel de Barros)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Hábito de rezar




Diz o mestre: reze todos os dias.
Mesmo sem palavras, sem pedidos, sem entender porque, faça da oração um hábito. Se no começo for difícil, proponha a você mesmo: vou rezar todos os dias desta próxima semana. E renove essa promessa a cada sete dias.
Lembre-se de que você não esta apenas criando um laço mais intimo com o mundo espiritual; também treina a sua vontade.
É através de certas práticas que desenvolvemos a disciplina necessária para o verdadeiro combate da vida. Não adianta esquecer a promessa e no dia seguinte rezar duas vezes. Tampouco adianta rezar sete orações num mesmo dia e passar o resto da semana achando que cumpriu sua tarefa. 
Certas coisas precisam acontecer na medida e no ritmo certos.
(P. Coelho – Maktub)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Elementos da felicidade



Tenho uma boa história para contar...
Imagine um riacho descendo do alto da montanha. Ele é muito jovem e quer correr. Seu objetivo é o oceano. Quer chegar lá tão rápido quanto possível. Quando alcança as planícies e o campo, fica mais lento. Se torna um rio. Fluindo lentamente, começa a refletir as nuvens e o céu. Há muitos tipos de nuvens, com diferentes formas e cores, e o rio passa todo o tempo as perseguindo, uma depois da outra. Mas as nuvens não ficam paradas. Elas vêm e vão. O rio chora muito, porque nenhuma das nuvens fica com ele para sempre. 
As coisas são impermanentes. Ele sofre devido a sua atitude e comportamento.
Um dia um vento forte limpou todas as nuvens e o céu ficou extremamente azul. Não havia absolutamente nuvens. O rio pensou que a vida não valia a pena ser vivida mais. Ele não sabia como desfrutar do céu azul. Ele o via como vazio, e sentia que a vida não tinha significado. Esta noite ele quis se matar. Como pode um rio se matar? De alguém não é possível se tornar ninguém. De algo não é possível se tornar nada. Durante aquela noite ele chorou muito. Este é o som da água batendo nas margens. 
Esta foi a primeira vez que ele voltou-se para si mesmo.
Até agora, ele tinha apenas corrido para fora de si mesmo. Ele pensava que a felicidade estava fora, não dentro. A primeira vez que voltou a si mesmo e ouviu o som de suas lágrimas, ele descobriu algo. Ele não sabia que um rio era feito de elementos não-rio. Ele estava perseguindo nuvens, pensando que não poderia ser feliz sem elas, e não percebeu que ele era feito de nuvens. O que ele estava procurando já estava dentro dele. 
Felicidade é assim. Se você sabe como voltar ao aqui e agora e perceber os elementos de sua felicidade que já estão disponíveis, não precisa mais correr.
De repente o rio percebeu que havia algo refletido nele: o céu azul. Ele vê o quão pacífico, sólido, livre e bonito o céu é. Ele não tinha percebido antes. Ele sabe que sua felicidade deveria ser feita de solidez, liberdade e espaço. Ele é preenchido de felicidade porque pela primeira vez soube como refletir o céu. Antes, ele havia somente refletido as nuvens e ignorado completamente o céu. 
Esta foi uma noite de transformações profundas. Todas as lágrimas e sofrimento foram transformados em alegria, solidez e liberdade.
Na manhã seguinte não havia vento. As nuvens retornaram. Agora ele as reflete sem apego com equanimidade. Ele diz “Oi” cada vez que uma nuvem aparece. Quando a nuvem se vai, ele não fica triste. Ele achou a liberdade. Ele sabe que a liberdade é a fundação da sua felicidade. Ele aprendeu a parar e não correr mais. Naquela noite algo maravilhosos se revelou. A imagem da lua cheia foi refletida. Ele está muito feliz dando as mãos para as nuvens e a lua, praticando meditação caminhando para o oceano. Cada passo, feito em conjunto com as nuvens e a lua traz ao rio muita felicidade.
Cada um de nós é um rio. 
Começamos como um regato descendo do alto da montanha, querendo correr o mais rápido possível. Então aprendemos como ficar mais lentos um pouco, e começamos a perseguir objetos de nosso desejo. Sofremos. Às vezes sofremos tanto que não queremos nem mais existir. Então temos a chance de voltarmos para nós mesmos e refletir profundamente. Percebemos que o objeto de nosso desejo é a causa de nosso desespero e das nossas aflições. 
Todos os elementos da felicidade estão disponíveis no aqui e agora. Temos tudo que precisamos. 
De repente conseguimos o tipo de liberdade que nunca tivemos e somos capazes de viver cada momento de nossa vida diária profundamente. 
Como nos tornamos um rio feliz, podemos ajudar muitos rios a nossa volta a se tornarem felizes também.
(Thich Nhat Hanh)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

(Res)pingos de luz



Sempre que se sentir propenso a se autocriticar ou condenar, afirme com convicção: eu exalto a figura de Deus existente no intimo do meu ser.
(Murphy)
 [Retirado do caderno de anotações do Prof. Antônio Costa, nosso pai.]

terça-feira, 25 de junho de 2013

Pensamentos daqui e dali



A trajetória de nossa vida pode parecer definitivamente marcada por certas situações. Nossa vida, entretanto, conserva sempre todas as possibilidades de mudança e conversão que estiverem ao nosso alcance. 
E tais possibilidades são tanto maiores quanto mais abrigarmos em nós de infância, de gratidão, de capacidade de amar.
(Herman Hesse)