quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Contando um conto



Dentro e fora dos limites da cidade sagrada havia uma alta montanha, no cimo da qual havia um belíssimo palácio, habitado por um Rei resplandecente em Sabedoria e Amor. A montanha era inacessível para a maioria dos peregrinos embora, de quando em quando, alguns, mais aventureiros, tentassem subi-la. Uns poucos, talvez mais ousados ou persistentes, muniam-se de apetrechos considerados por eles como seguros e iam fazendo a sua caminhada.
Entretanto, quanto mais se aproximavam do topo, mais os obstáculos do caminho impediam o seu avanço e, assim sendo, eles retornavam.
Os poetas, ao regressarem, faziam versos sobre o caminho, a caminhada, as dificuldades do percurso e até arriscavam – na sua imaginação – descrever aquilo que não tinham visto.
Os letrados, ao voltarem, escreviam livros e tratados sobre como deveriam proceder aqueles que pretendiam subir a montanha. Embora os seus escritos contivessem muitos detalhes importantes, não conseguiam esclarecer – nem aos iniciantes nem a quem quer que fosse – alguma coisa a respeito das etapas finais, que eles tampouco haviam atingido.
Os devotos, ao voltarem, cantavam hinos e louvores nos quais enalteciam a figura do grande Rei que jamais tinham conhecido.
E assim se passavam os anos sem que ninguém conseguisse atingir o objetivo final, ou seja, chegar ao Rei.
Um dia, uma peregrina chegou à cidade sagrada e dispôs-se a subir a montanha.
No início, ia concentrada em si mesma, nos seus esforços, nos seus desejos, nos seus pensamentos e, assim, caminhava a passos lentos porque os seus pés pesavam como chumbo. Mas, ainda assim, persistia, apesar das dificuldades e tropeços da jornada.
Depois de muito tempo de caminhada, uma pequena avezinha que tentava voar para o alto da montanha carregando no seu bico uma frutinha enorme para o seu tamanho despertou a atenção da peregrina. Ela viu que, após várias tentativas infrutíferas, a avezinha simplesmente se desembaraçou da sua carga e seguiu voando livre para o alto da montanha.
Vendo em toda esta situação uma lição, a peregrina refletiu e achou que – ela também – talvez estivesse carregando uma carga pesada demais, o que lhe dificultava o avanço.
Fez uma retrospectiva da sua caminhada e substituiu o seu desejo inicial pela aspiração de chegar e, em vez de se concentrar apenas em si mesma, aspirou chegar ao topo para poder voltar e auxiliar os outros caminhantes que tivessem o mesmo intento a encontrar o caminho mais seguro.
Teve a ideia de ofertar ao Rei cada pensamento que lhe aflorava à mente; assim, a sua carga ficava mais leve.
O mesmo fez, não só com os pensamentos como com tudo o que sentia, que percebia, que entendia. E assim foi, caminhando, aquela – aparentemente – frágil peregrina, oferecendo o seu cansaço, as suas dores, tudo, em homenagem ao Rei que aspirava conhecer.
Quando conseguiu atingir o topo e entrou no palácio, constatou que o trono estava vazio.
Foi então que ouviu claramente uma voz como um trovão que lhe disse: “Sobe e senta-te!”. O Rei e ela eram finalmente UM!

Nenhum comentário:

Postar um comentário